Mulheres por trás das câmeras

Mesmo com avanços, há pouca representatividade feminina na indústria cinematográfica

Relatório anual sobre a diversidade em Hollywood elaborado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), estudou em 2017, 200 filmes e 1.360 programas transmitidos por TV ou plataformas digitais e aponta pequenos avanços para as mulheres por trás das câmeras. O resultado pode indicar futuras mudanças mais expressivas, e mostra que os debates e reivindicações acerca do tema começam a gerar seus primeiros frutos. O relatório destaca que o fato se deve ao crescimento de plataformas como Netflix, Hulu e Amazon. A primeira, um fenômeno crescente, conhecidamente dispõe de diversas produções voltadas à debates de cunho social. 

Elas ganharem em premiações também é raridade. Os homens ocupam maior espaço na crítica especializada e compõem maioria em júris de festivais. A primeira mulher a ganhar o Oscar de melhor direção foi Kathryn Bigelow com Guerra ao Terror, em 2008, na 80ª edição do prêmio. Desde então, permanece a única. Também em Cannes, que em tese possui jurados com olhar mais arejado, Sofia Coppola, em 2017, foi a segunda mulher em 70 a levar o Palma de Ouro de melhor direção por O Estranho que Nós Amamos. Outro ponto é o pouco investimento que projetos dirigidos por mulheres recebem. Mulher-Maravilha, dirigido por Patty Jenkins foi o segundo filme dirigido por uma mulher a receber orçamento superior a US$ 100 milhões. Que duplicou esse valor em bilheteria apenas na estreia.

DANIEL LEAL-OLIVAS (AFP)

No Brasil, o quadro não é diferente, levantamento da Agência Nacional de Cinema (Ancine) que nem 16% dos filmes produzidos no país em 2017 foram dirigidos exclusivamente por mulheres. Além da dificuldade de entrar no mercado, que se mostra muito fechado, há o desafio da permanência pela falta de incentivos e reconhecimento histórico das mulheres no audiovisual nacional. Na lista de filmes nacionais líderes de bilheteria de 2002 a 2014, nenhum teve direção ou roteiro feitos por mulheres, como mostra o site Mulher no Cinema.

Profundamente enraizado na indústria cinematográfica, o machismo ainda perdura fechando muitas portas e criando enormes barreiras para as mulheres que trabalham na indústria cinematográfica, e em diversos outros setores da sociedade. A Ancine se mostrou preocupada com a pouca representatividade feminina no audiovisual nacional, e desde 2018 vêm concretizando ações,  promovendo igualdade de gênero nas comissões de seleção de filmes para receber recursos do Fundo Setorial Audiovisual (FSA) e estabelecendo cotas para participação por gênero e raça. 

Nos Estados Unidos, a FX e Ryan Murphy lançaram a “Half Initiative” para ter metade dos produtores do canal mulheres ou pertencentes a minorias. Os resultados mostram que o número de diretoras mulheres na emissora subiu de 12% em 2015 para 51% em 2016. Há reivindicações também em Hollywood, desde 2017, cineastas pedem cotas de gênero, são “necessárias para que as mulheres possam obter um primeiro emprego como produtoras e também para mudar as mentalidades” declara a diretora Meera Menon.

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